Market share Superior
Hoje o Macmagazine está mostrando uma matéria assinada pelo Rafael Fischmann, que é um cara muito legal e que escreve bem, que usou um termo de uma forma que, eu entendo, leva a uma interpretação absurda.
Ele diz "O Windows 7 (...) tem um market share superior ao do Mac OS X 10.6 Snow Leopard" (o destaque é meu).
Eu sei perfeitamente bem que o market share do Windows é imenso. Sei igualmente bem que qualquer versão de Windows vai cruzar a barreira de 10% de usuários com relativa facilidade, uma vez que é quase mais difícil comprar computadores genéricos com a versão anterior de Windows (o que, com a caca que é o Vista até fazia sentido antes, mas com o 7 - que é melhorzinho - não faz mais) do que comprá-los com Linux. Computadores quebram e são aposentados. Computadores novos vêm com Windows 7.
Simples assim. O crescimento dele no mercado é tão inevitável quanto o próximo nascer do sol ou decaimento do Urânio 235.
A palavra certa
"Maior". O market share do Windows 7 é maior do que o do Snow Leopard. É maior do que o do Linux. Mas, Rafael, me perdôe, não é superior exceto na estreita interpretação de superioridade numérica.
Superioridade numérica raramente pode ser ligada a "melhor", um sinônimo do adjetivo "superior" que é mencionado no dicionário. Há mais pagodeiros do que jazistas e mais funkeiros do que amantes de bossa-nova. Corinthianos são mais numerosos do que são-paulinos. O Xbox 360 é mais vendido que o PS3 e o PS2 é mais vendido que os dois juntos. "Mais" nunca quer dizer "melhor". Uma coisa não tem relação com a outra.
Então, vamos encarar o inescapável fato de que usuários de Mac, GNU/Linux, BSD e OpenSolaris são mais selecionados do que os de Windows, porque:
- Eles sabem o que é um sistema operacional e são capazes de escolher qual usar (tirando aquela meia-dúzia de sempistas que compraram Mac só porque era chique)
- Entenderam que sistemas Unix-like são mais seguros, estáveis e versáteis do que esse filho bastardo do VMS que a Microsoft vende por aí
- Sacaram que todo o jeito com que se instala programas no Windows é completamente surreal. No mau sentido.
- No caso dos usuários de OpenSolaris, entenderam que ZFS é ducaralho.
- No caso dos usuários de Linux e de OpenSolaris, entenderam que gerenciamento de pacotes é O Único Jeito São de se manter um computador e o software que roda nele inteiros. Eu excluo os usuários de Mac e BSD porque os sistemas deles ainda precisam comer muito arroz com feijão nesse terreno.
- Descobriram que mesmo aquele Atom vagaba que se arrasta no XP consegue rodar uma dúzia de programas sem deixar nenhum deles impossivelmente mais lento do que os outros.
- E que tiveram outras tantas pequenas epifânias para as quais usuários de Windows simplesmente ainda não estão prontos.
O Windows é feito para o homem comum, para os medianos, para quem não se preocupa em ter a melhor ferramenta. Não hostiliza os abaixo-da-média e atrás-da-curva, uma inclusividade social louvável por si só. O market share dele é grande justamente por isso.
Mas, cá pra nós, superior mesmo é o resto do market share.
Não é questão de quantidade, mas qualidade.
Ah...
Mesmo assim, eles dizem "2 é superior a 1". Não é questão de quantidade, nem de qualidade. É questão linguística.