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Quando Geeks Se Encontram
by
Ricardo Bánffy
—
last modified
Nov 19, 2008 07:30 PM
Estou escrevendo esse parágrafo sentado em um dos cantos de um auditório. O palestrante, barbado, cabelos compridos e muito, muito engraçado, está falando sobre empreendedorismo contando a história das várias encarnações de sua empresa. Agora ele está falando como ele, que sempre faz serviços para uma empresa no exterior, tem sempre que ensinar os gerentes de conta que o atendem, que são trocados com mais frequência do que as plantas ornamentais da agência, como se faz as operações de câmbio necessárias para que ele possa pagar suas contas. Estou em um canto do auditório porque só há 4 tomadas livres. 4 tomadas livres para, aproximadamente, 50 notebooks garante que sejam usados os expedientes mais perigosos para que se ligue os micros na tomada. Meu micro, já meio idoso e pedindo desesperadamente para ser devolvido à aposentadoria da qual um assaltante o tirou (sim, meu micro mais novo foi roubado em um assalto) tem uma bateria capaz de mantê-lo funcionando por, com sorte, cinco minutos me obriga a ver as palestras todas de lado. O evento é o 3o. encontro nacional da comunidade Python. Python é uma linguagem de programação extremamente elegante e expressiva e, se você não sabe nada sobre ela, continue assim. Eu a considero uma vantagem competitiva e se você, meu leitor, não souber do que se trata, melhor para mim. Python é a linguagem em que várias ferramentas muito interessantes foram construídas. Zope e Plone são duas das minhas favoritas, principalmente por conta do meu trabalho com web, mas há montes de outras. Python é usado desde no monitoramento de linhas costeiras até na reconstrução volumétrica de imagens médicas. Eu aprendi tudo isso nos últimos 3 dias. Na primeira noite do evento, a TV local se interessou e três de nós (Luciano, Érico e Marco) foram entrevistados por 1 hora e meia em um talk-show. Eu não vi o vídeo e terei que esperar pela versão YouTube dele, mas, os que estavam assistindo enquanto saíamos para conhecer uma cachaçaria local dizem que foi muito interessante. Uma das coisas interessantes nesse evento é a ausência de uma grande empresa dominando-o. Não há muitos eventos assim hoje em dia. E isso é muito importante. PropagandaAo longo da minha carreira em TI, eu estive em muitos eventos, a maioria deles patrocinado por uma ou outra grande empresa. As palestras são escolhidas pela organização do evento e refletem seus pontos de vista e seus interesses. Se você pagou para ir a um evento da Microsoft, por exemplo, parabéns. Você pagou para assistir um longo infomercial - umas 20 horas em que você ficou sentado recebendo as informações que queriam que você recebesse. É tão informativo quanto sintonizar a TV no Discovery Channel às seis da manhã. Se você mandou seus funcionários para um evento da Microsoft, parabéns de novo. Você pagou para que eles fossem assistir um infomercial enquanto não trabalham. Se você espera que eles saiam do evento com uma visão realista do que viram, entre em contato. Estou vendendo uma ponte lindíssima por um preço muito abaixo do mercado. Uma verdadeira pechincha. Uma vantagem de eventos como esse, organizados por associações de usuários (esse é organizado pela Associação Python Brasil da qual Luciano é presidente, Marco coordena ações junto à instituições educacionais e da qual Érico deixou a diretoria de marketing) e conta com o apoio de várias empresas e outras instituições que usam, dependem ou acham Python interessante. Para alguns isso pode ser um problema - você não vai ouvir falar de Java aqui, nem de PHP nem de outras tecnologias exceto piadas (quem não gosta de tirar um sarro do pessoal que prefere usar Java?) em comparativos mostrando como as tecnologias baseadas em Python, como Zope/Plone, Grok e Django são superiores aos suas contrapartes e, em alguns raros casos, o que as contrapartes fazem direito e onde precisamos melhorar coisas. ColaboraçãoA outra coisa interessante é o modelo do Python e de várias outras das ferramentas mostradas aqui. Python é software-livre. Assim como Zope, Plone, Grok, Django, TurboGears, Storm, Pyjamas, WxPython, Pygnome, NumPy e Matplotlib, apenas para ficar naqueles que eu vi nas últimas horas. Existem versões de Python para telefones Symbian S60, para Windows, para Solaris, para AIX, para Macintosh e para Linux. A versão Windows do Plone é, inclusive, muito popular. Olhando em volta vemos muitos Macs, muitos notebooks com Linux e muitos notebooks com Windows. Vejo também um UMPC Samsung e um Nokia N800, ambos rodando Linux. Ao contrário do modelo de software proprietário (ou "software-preso"), segundo o qual somos todos inimigos ou, no máximo, comensais do fornecedor maior, o modelo livre incentiva a colaboração e a troca de informações. E isso funciona muito bem. Funciona bem porque muitos dos que estão aqui estão envolvidos diretamente no desenvolvimento das ferramentas que usamos. O resto está envolvido ativamente no uso dessas ferramentas e a interação entre esses dois campos rende frutos. Quero ver alguém resolver algum problema do Exchange (e que ninguém diga que ele é perfeito) durante um desses "infomerciais" (que, volta e meia, você até tem que pagar pra ver). Coisas Que Eu ViNão tenho muito espaço para contar tudo o que eu vi aqui (estou escrevendo esse parágrafo no terceiro e último dia do evento), mas posso contar algumas das coisas que eu aprendi. Eu vi mais coisas que podem ser feitas com Grok. Comparado a ele, coisas como Rails (Django e TurboGears também) parecem ecos de um passado longínquo. Bancos relacionais (o mecanismo preferido para persistir dados desde os anos 70) e programação orientada a objetos sempre se estranharam. Grok (e Zope3) mostram como se coloca uma pá de cal nessa história. Vi muitas das coisas extraordinárias que apareceram na versão 3 do Plone. Simplesmente não existe nenhum gerenciador de conteúdo que chegue nem mesmo perto dele e, se você está usando qualquer outra coisa de livre e espontânea vontade, merece um tapão na nuca por isso. Pensando bem, entre em contato comigo. Seus problemas com gerenciamento de conteúdo têm cura. Outra coisa interessante é que a platéia (e o corpo de palestrantes) não é composta de computólogos, mas de um público muito mais amplo. Há engenheiros, biólogos, oceanógrafos, linguístas, designers, jornalistas, matemáticos e educadores. O elo comum é o interesse e a vontade de usar computadores para resolver seus (cabeludos) problemas. Python entra na brincadeira por ser elegante, concisa (algum Javista quer opinar?), fácil de aprender, fácil de obter resultados e, não menos importante, fácil de entender seis meses depois de você ter escrito o código. Falando em Plone (ok... ok... Eu gosto do Plone), eu tomei contato com vários projetos interessantes que o complementam, acrescentando conteúdo multimídia, por exemplo, e o tornam uma solução ainda mais conveninente de gerenciamento de conteúdos tanto para sites como para intranets. É mais ou menos assim: Se você mora no Brasil, já usou Plone. Eu usei outro dia para marcar um horário para renovar meu passaporte. O site do IDGNow roda em Plone. O site da OAB roda com Plone. Superando os MedíocresEu gosto muito de um artigo de Paul Graham chamado "Beating the Averages" (a propósito, editoras, anotem: eu adoraria traduzir o livro todo). Nesse artigo ele explora como usar tecnologias "diferentes" podem trazer vantagens competitivas muito relevantes. No caso, ele fala de Lisp (que ele usou para fazer a ViaWeb, que virou Yahoo Stores e que fez com que ele pudesse se aposentar e se dedicar a escrever bons artigos e livros). É assim que eu vejo tecnologias como Python, Rails (verdade - eu acho mesmo, mas não tanto quanto Grok), Django, Zope, Plone e Grok. São tecnologias tão mais sofisticadas que compará-las a coisas como PHP, .NET ou Java é como comparar um motor de disco-voador com um motor de fusca. No caso do Java, a maior concessão que eu faço é a comparação do motor de disco-voador com um motor diesel de locomotiva. Para o Paul Graham e a ViaWeb, o Lisp funcionou permitindo que eles colocassem no ar recursos antes dos concorrentes gastando menos dinheiro enquanto isso. A conta é simples: se você precisa de 40 homens x hora para colocar algo no ar e seu concorrente precisa de 400, seu competidor queima seu capital 10 vezes mais depressa do que você para ter os mesmos resultados. Se a tecnologia que você usa permite que você iguale as funcionalidades do seu competidor em menos de um dia, você vai parecer clarividente. Por outro lado, se você e seu concorrente usarem a mesma tecnologia e tiverem programadores igualmente competentes, essa vantagem vai evaporar. Minha única preocupação é se meus concorrentes lerem e aprendam alguma coisa. Mas tudo bem. Eu nunca escrevo tudo. ;-) © Ricardo Bánffy Este artigo tambmé está disponível aqui. Document Actions |
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