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Vivendo no Windows

by Ricardo Bánffy last modified Oct 04, 2009 07:38 PM

Primeira parte do comparativo entre a vida no Windows e a vida nos diversos ambientes Linux do mercado

Eu sei que esse é um assunto controverso, mas precisamos encarar os fatos: o Windows é tosco.

Tosco, inacabado e completamente inadequado para qualquer um que queira ser eficiente enquanto usa um computador. Engessado, por questões de segurança que simplesmente não deveriam mais existir. Inseguro por questões históricas, porque o miolo dele (e boa parte da interface) foi concebida para ser usada por computadores mono-usuário, mono-tarefa, mono-processador, desconectados de redes ou, quando muito, conectado a redes totalmente sanitizadas com meia dúzia de pessoas. Ninguém menciona, mas o Windows NT (do qual seu XP e seu Vista descendem) só conseguiu a certificação C2 do DoD quando usado desconectado de redes. As melhorias de segurança que ele tem hoje (melhorou muito desde os tempos do NT) são coisas penduradas por cima do kernel e não uma coisa pensada "de dentro pra fora". Quem projeta software sabe que remendos assim nunca ficam bons.

Um pouco de história

Há pouco mais de um mês eu estou usando Windows diariamente. É um misto de ironia, política corporativa, punição cruel e pouco usual e alguma inércia minha. Eu suponho que eu poderia me rebelar, instalar um Ubuntu nesse computador e ser feliz independentemente dos protestos do time de suporte, mas, para isso, eu teria que ter muito mais trabalho do que já tenho e correria o risco de não conseguir fazer algumas das coisas pelas quais eu sou pago. Nesse momento, me rebelar não é uma opção.

Mas eu posso sonhar, não é mesmo?

XP ou Vista

Dizem que o Vista é melhor. Eu duvido. Minha experiência com ele, ainda que breve, mostrou um sistema lendo e "entrão". Eu não quero um sistema me perguntando se o programa fulano pode escrever onde nenhum programa sensato deveria. Eu quero um sistema que não permita isso. Eu consigo responder esse tipo de pergunta de forma inteligente, mas duvido que os usuários menos tecnicamente inclinados (precisamente o público do Windows) possam dizer o mesmo. E eu já tenho que responder perguntas importantes durante todo o meu dia de trabalho e não preciso de nenhuma interrupção extra. Eu tentei, verdade. Eu fui beta-tester do Vista. Eu reportei um problema (ele mastigava o meu bootloader e fazia com que meu Debian não bootasse mais) que nunca foi corrigido.

Hoje eu uso o XP. Ele é mais leve, mais rápido e, na máquina que eu uso, com um giga de memória, é o único Windows "de verdade" que cabe nela. E as empresas que usam Windows precisam calcular se vale a pena trocar suas muitas licenças de XP por licenças novas de Vista.

Na verdade, como a imensa maioria dos usuários de Windows, eu uso o que veio no meu computador. O de casa é meu, mas esse aqui é uma ferramenta de trabalho.

Usuários sofisticados

O Windows não estava pronto para usuários avançados há dois anos atrás e continua igualmente não pronto. Não melhorou nada, se não tiver piorado. Nem o Windows 7 promete ser melhor. A verdade simples é que o Windows não se destina aos usuários tecnicamente refinados. Não que não seja possível agradar a todos. As distribuições de Linux modernas fazem um bom trabalho nessa área, assim como o OSX. A razão disso é que não são os usuários de Windows que compram o Windows - A Microsoft tem 3 grandes clientes: a Lenovo, a Dell e a HP. Você, leitor, não conta. É uma minoria insignificante.

Feiúra

O Windows XP é muito feio. Era melhor que o Windows 2000, mas isso é como ser o irmão mais bonito do Homem Elefante. O Vista nasceu com a intenção de ser bonito, mas os resultados dos vários anos de esforço, dos grupos de foco e dos estudos de usabilidade foram, no máximo, questionáveis. Se o XP tem cores berrantes, o Vista é um Liberace com janelas. Como diz Steve Jobs, o problema da Microsoft é que eles não tem bom-gosto.

Existe solução?

Existe, mas não é fácil. A felicidade é inatingível, mas um usuário mais sofisticado pode, com algum esforço, se acostumar a viver no Windows. Felizmente, existem alguns quebra-galhos que podem ajudar nessa dura jornada de adaptação.

Cygwin

A linha de comando do Windows é patética. Ela é, para todos os efeitos, inútil. Mesmo o PowerShell é uma mostra de que o pessoal da MS não "pegou" o espírito da coisa. Ainda assim, graças ao esforço de alguns heróis, é possível ter uma linha de comando "padrão" no Windows. Tudo o que você precisa é instalar o Cygwin. Cygwin é um "verniz" Linux para Windows. Com ele você tem um shell bash e pode escolher o que instalar do sortimento habitual de programas que você encontra em todo Unix-like moderno. Compiladores (a família GNU), interpretadores, controle de versões (Subversion, CVS, git, bzr) utilitários de linha de comando essenciais (como grep, sed, sort, wc) e sistemas de banco de dados (de SQLite a PostgreSQL), está tudo lá ao alcance do instalador. Você pode até instalar um X (o ambiente gráfico "tradicional" do Unix) com um Gnome e usá-lo lado a lado com seu Windows. Se você se acha um bom desenvolvedor e não sabe o que é gcc, grep, svn, wc e não consegue escrever um script em bash, saia do clube e entregue sua carteirinha na recepção.

Pidgin

Para resolver o problema das mensagens instantâneas do Windows, você pode usar o Pidgin. Pidgin é um cliente de mensagens instantâneas que atende as redes MSN, ICQ, AIM, Yahoo, Google e mais um monte de outras em que eu não tenho conta. Faz muito bem o que tem que fazer - trocar mensagens escritas. Não tem as inutilidades todas do MSN. Tem zilhões de plug-ins interessantes. E você mesmo pode escrever o que faltar em linguagens de alto nível como Perl ou, eu acho - nunca tentei, Python.

Açúcar para o shell

O shell do Windows (o Windows Explorer) é profundamente modular e estensível. Na época do Internet Explorer 3, a Microsoft tinha o Microsoft Internet Mail and News, que empregava, muito bem, a idéia de estender a metáfora do desktop do Windows e a pasta Meu Computador com tipos de dados como "pastas" que tinham mensagens de e-mail dentro delas. Pena que acabou - era uma idéia muito boa.

Para quem trabalha com documentos que passam por vários estágios evolutivos, uma ferramenta de controle de versão é essencial. Se o documento tem que ser trabalhado por um grupo, então, isso é essencial. Há um produto para Windows que é essencial para quem desenvolve coisas nele: o TortoiseSVN. Primo do TortoiseCVS, ele é uma extensão para o Explorer que permite manipular visualmente pastas associadas a repositórios SVN. É duca.

Rodando sistemas operacionais bons

Alguns dos bons virtualizadores rodam em Windows. VMWare é bom, mas tem uma licença chatinha. A Sun comprou o pessoal que fazia o VirtualBox e fez seu xVM, que tem uma licença bem mais amistosa. Com ele você pode rodar várias máquinas virtuais com o sistema que quiser (desde que você legalmente possa). Você pode rodar sua distro favorita de Linux em uma VM do xVM (ou pode se rebelar, instalar um Linux e rodar o Windows que veio no seu computador dentro de uma VM, se a licença dele permitir, claro).

Windows não tem coisas interessantes como um Xen ou um Virtuozzo/OpenVZ ou os containers do Solaris ou o jail do *BSD. Pelo menos algo parecido com o Xen a Microsoft já prometeu para um futuro qualquer, mas entregar, que é bom, nada. Eles tem o Hyper-V, mas ele roda debaixo do Windows 2008 e a idéia de um OS pesadíssimo rodando VMs de outros OSs me faz pensar, no mínimo, duas vezes.

Nenhum deles roda o MacOS X, mas, se essa é sua praia, compre um Mac. Não é nem caro. E é um Unix perfeitamente suportável.

Royale Noir

O último retoque é deixar o Windows XP menos feio. Para o Windows Media Center, a MS fez um outro tema, chamado Royale. É bonitinho, mas meio cheguei demais. Aparentemente, um dedicado amante do Windows (isso existe, por incrível que pareça) encontrou uma versão dele que quase foi lançada e que esteve disponível no site da MS da Nova Zelândia. Ainda dá para encontrá-lo aqui. Abra o arquivo e siga as instruções do readme. Se você não entender, leia de novo. Repita o processo até ou entender ou desistir. Não me peça suporte.

Resumindo

Usar Windows é uma experiência "sobrevivível". O multi-tasking é uma merda - a máquina trava e fica inusável com 3 ou 4 processos trabalhando (coisa que um Unix usualmente tira de letra) apesar da robusta CPU dual-core e a segurança continua risível e exige que eu reparta o marginal desempenho da máquina com um anti-vírus que precisa examinar tudo o que entra na máquina para evitar que ela se torne um membro de gangue de spammers, mas, pelo menos, eu tenho uma linha de comando que serve para alguma coisa, um  X funcional e a maioria das minhas ferramentas favoritas.

Dá pra aguentar, pelo menos até eu ter tempo e disposição para me rebelar.

Nota: Esse artigo está disponível também em http://webinsider.uol.com.br/index.php/2008/10/02/vivendo-no-windows/