Além do x86, Parte 2
Uns dias atrás eu estava comentando sobre as coisas interessantes que existem fora do mundinho x86. Digo "mundinho" não com uma conotação negativa, mas por ser um espaço relativamente pequeno em que soluções muito parecidas umas com as outras competem por problemas que, não raro, não conseguem resolver direito. Na última vez eu falava de um computador da Sun e hoje vou falar de outra máquina bem mais exótica.
Mas a intenção aqui não é falar de máquinas, mas de necessidades e do futuro. É óbvio, mesmo ao mais ingênuo entre nós que acompanhamos a evolução da tecnologia da informação, que os próximos aumentos de desempenho de nossas máquinas virá não de processadores mais rápidos, mas de chips com mais processadores mais lentos. Mesmo no universo dos x86s, tradicionalmente avesso à mudança, máquinas de 2 núcleos são a norma. Chips de 4 núcleos são relativamente mais raros e chips de 6 núcleos só agora começam a ser apresentados ao mercado.
Eu já devo ter comentado que uma das promessas do open-source é que ele nos liberta da tirania da compatibilidade binária. Quem roda Windows não tem escolha de computador - precisa de um x86. Quem roda Solaris, pode escolher entre x86 e SPARC. Quem roda Linux pode escolher uma de muitas arquiteturas diferentes e interessantes. Pode ir de ARM ou de mainframe IBM. Pode ir de SPARC ou Itanium. Pode ir de Cell ou de MIPS. Pode até ir de PC x86 como eu.
MIPS já foi o processador mais usado no mundo. E nem faz tanto tempo assim: era o mais usado por boa parte dos anos 90. De estações de trabalho a videogames, de Nintendo 64 a PlayStation 1 e 2, a arquitetura MIPS é comum em equipamentos de baixo consumo de energia como equipamentos de rede e controladores embarcados. Ganhou algumas notícias por conta de um servidor rack-moutable da Movidis que consome apenas 50 watts.
MIPS também é a base de outras máquinas muito interessantes. A SiCortex tem uma linha de supercomputadores baseada nela. O menor modelo é uma máquina de mesa, com 72 processadores MIPS e 48 GB de memória. A máquina maior tem 5.832 deles e tem o tamanho de uma geladeira grande.
A proposta da SiCortex é fabricar supercomputadores de baixo custo de operação, unindo baixo aquecimento (menos energia gasta em ar-condicionado) e baixo consumo de energia (menos energia gasta mantendo a máquina ligada). Não vão bater recordes de desempenho e, provavelmente, não estarão entre os TOP500 da supercomputação, mas os menores custos de operação abrem a possibilidade deles serem usados por instituições que não poderiam ter um Blue Gene.
Mas o ponto importante da história não é esse.
Multi-threading e multi-core são evoluções inevitáveis na indústria. Meu netbook usa uma CPU multi-threaded. A Intel vende Xeons de 6 núcleos e já mostrou o Larrabee, com 16 deles. A Sun tem processadores capazes de rodar 64 threads. Nenhum pretendente a criador de software estará preparado para esse mundo altamente paralelo se tudo o que ele vir na faculdade forem máquinas com 2 ou 4 CPUs.
E é por isso que máquinas exóticas são mais importantes do que parecem: porque o futuro é bem mais exótico do que era alguns anos atrás.